Uma paciente de 28 anos do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) foi a primeira mulher da América Latina a ser submetida a um transplante de útero de uma doadora que já tinha morrido. A cirurgia, já feita nos Estados Unidos e na Turquia, foi realizada no mês passado e a paciente se recupera sem sinais de rejeição do órgão.
O
procedimento, ainda experimental, fez parte de um projeto de pesquisa
da Divisão Clínica de Ginecologia e do grupo de transplante hepático do
hospital que teve início há cerca de três anos. O objetivo é que ele
seja direcionado para mulheres que nasceram sem útero e pretendem
engravidar.
“O
projeto foi aprovado na comissão de ética do hospital e no Conep
(Conselho Nacional de Ética e Pesquisa). As equipes começaram a fazer
estudos em cadáveres e, depois, em ovelhas. Nossa equipe foi para a
Suécia, onde existe um centro que faz transplantes de doadoras não
falecidas e têm resultados positivos de gravidez nas receptoras. Então,
apareceu a oportunidade de fazer aqui. O nosso caso é o terceiro no
mundo”, explica Edmund Chada Baracat, professor titular da disciplina de
Ginecologia e diretor da Divisão de Ginecologia do Hospital das
Clínicas.
Os
dois outros procedimentos que foram feitos não tiveram resultados
positivos. No caso dos Estados Unidos, o útero precisou ser removido. Na
Turquia, a mulher chegou a engravidar, mas teve um aborto espontâneo.
“A nossa paciente está muito bem, fazendo todos os acompanhamentos e
tomando uma medicação específica para evitar rejeição. Também vamos
acompanhar a situação reprodutiva dela.”
A
mulher tem a Síndrome de Rokitansky, uma condição rara que faz com que o
útero não seja formado. Também pode causar alterações na vagina, mas
não afeta os ovários. A síndrome costuma ser notada na adolescência,
quando a jovem não menstrua, embora tenha um desenvolvimento
normal.Segundo Luiz Augusto Carneiro D’Albuquerque, diretor do Serviço
de Transplantes Abdominais do Hospital das Clínicas, o projeto prevê a
realização de três cirurgias, inicialmente.
“A
cirurgia é complexa. O procedimento durou dez horas. Foram quatro
pessoas para fazer a remoção do útero (da doadora), que é colocado em
uma solução e, depois, implantado na paciente. Fazemos a costura das
veias para ter a plena drenagem do útero.”
Futuro
Após
acompanhamento por um ano, se a paciente não tiver complicações, serão
iniciadas as tentativas para que ela engravide. Antes do transplante, já
foi realizada a coleta de óvulos e oito embriões estão congelados.
Baracat
explica que esse tipo de transplante pode ser, no futuro uma opção a
mais para as mulheres que nasceram sem útero e têm o sonho de gerar uma
criança.“O transplante de útero tem indicação restrita. É para mulheres
que nasceram sem útero e têm um futuro reprodutivo adequado, como é o
caso dessa mulher. É preciso ter boas condições clínicas e o casal
precisa ter embriões adequados para serem implantados depois. É um
procedimento de alto custo e sabemos que o útero não é um órgão vital,
como é o caso de um coração ou de um pulmão.”
VEJA SÃO PAULO
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Saúde